O Distrito Federal contém a sede do governo federal, e encravada no Planalto Central, combina modernidade do planejamento urbano de Brasília com a tradição rural do estado de Goiás. O legado do planejamento traz inúmeras implicações do ponto de vista da demografia, transporte, e organização das atividades econômicas. O Distrito Federal também foi palco entre 2016-2018, de uma grave crise hídrica. A causa foi atribuída a uma sequencia de anos secos que se somou a causas históricas de uso e ocupação do solo nas áreas de captação dos mananciais e mudanças demográficas, fato que ensejou o acirramento dos debates sobre outorga, gestão, usos múltiplos, e mesmo a segurança alimentar e hídrica da população, bem como a expansão urbana muitas vezes precária sobre áreas de vegetação nativa.
Desafios Regionais
- Vulnerabilidade à seca
- Conflitos entre usuários de recursos hídricos
- Vulnerabilidade a desastres em períodos de chuva
- Agricultura urbana e agricultura familiar como mecanismos para aumentar a segurança alimenta
- Crescimento demográfico
Questões principais da pesquisa atual e passada
- Qual o papel da governança hidrosocial face à crise hídrica?
- Como aumentar a resiliência e capacidade adaptativa do DF aos extremos climáticos?
- Qual a relação entre espaços verdes urbanos e as desigualdades sociais?
- Quais os impactos das mudanças socioambientais nos processos de produção e consumo de alimentos no DF?
Frentes de pesquisa
Espaços Verdes Urbanos (EVU)
A análise dos espaços verdes urbanos abrange a RIDE-DF e entorno conta com 22 municípios, sendo 19 goianos e três mineiros, além do Distrito Federal. A área analisada é de 2.104,46 km 2 que correspondem aos setores censitários do tipo urbano. O recorte de análise está dividido em: 58,84% no Distrito Federal, 36,91% em Goiás e 4,24% em Minas Gerais.
Até o momento foram realizas atividades de gabinete (mapeamento dos espaços verdes urbanos com Imagens de satélite RapidEye) e levantamento de literatura e arcabouço teórico. Os conhecimentos adquiridos no processo de mapeamento de imagens de satélite e as atividades de geoprocessamento utilizando-se do software livre QGIS foram aplicados em um curso gratuito de extensão à comunidade acadêmica da Universidade de Brasília (Curso de Extensão Básico e Aplico em SIG Livre).
O mapeamento identificou a porção de 635,95 km 2 de espaços verdes urbanos no recorte proposto. Esse valor corresponde a 30,22% da área analisada da RIDE-DF e Entorno. A maior proporção destes espaços (63%) estão no Distrito Federal. Além do mapeamento, foi realizada uma revisão teórica que aborda o conceito dos espaços verdes urbanos e sua relação com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) – Agenda 2030 (artigo aceito para publicação). Foi realizado um levantamento histórico do processo de urbanização da RIDE-DF e Entorno e sua relação com a presença e ausência dos Espaços Verdes Urbanos. Para análise comparativas, também foi realizado um mapeamento dos EVU na RM de São Paulo (maior região em termos de área e população) e sua análise em escala intraurbana foi publicada em artigo científico.
Territórios rurais e Segurança alimentar
O DF está situado no coração do bioma Cerrado, inserido no estado de Goiás Os dados preliminares do Censo Agropecuário 2017 mostram que as atividades agropecuárias do DF se desenvolvem por meio de 5.246 estabelecimentos numa área total de 257.047,358 hectares. O Censo também indica que 90% dos estabelecimentos tem menos de 100 ha e que 60% se enquadram na categoria de agricultores familiares. Estimativas de 2014 indicavam que a área média da agricultura não familiar é de 112,8 ha por unidade e a da agricultura familiar é 5,9 ha por unidade. Ou seja, a média do tamanho das unidades familiares é 19 vezes menor em relação a média das unidades não familiares.
Desenvolvimento de metodologia: A metodologia da pesquisa combinou a análise de documentos e arquivos com entrevistas de 17 atores-chaves, gestores, políticos, técnicos, acadêmicos e representantes das organizações de agricultores em 2018 e 2019. Foi aplicado um arcabouço analítico comum a outros estudos sobre as políticas estaduais de agroecologia e produção orgânica no Brasil realizados no marco dos trabalhos da Rede “Políticas Públicas e Desenvolvimento Rural na América Latina”; uma apresentação dos primeiros resultados teve lugar num seminário na Fiocruz da UnB no dia 11 de março de 2019.
Os resultados mostram como três grupos de interesse, originados por uma elite de poucos militantes pioneiros organizados desde os anos 1980, têm se constituído em uma rede de ação pública que promoveu várias iniciativas, eventos, instituições e instrumentos sendo a mais recente a criação da Política Distrital de Agroecologia e Produção Orgânica – PDAPO-DF, em 2017.
Segurança Hídrica
O sistema de abastecimento do DF é composto por cinco sistemas de produção hídrica, sendo o sistema Torto-Santa Maria e o sistema do Descoberto os mais relevantes. Juntos, respondiam, em 2016, por quase 90% da produção hídrica do DF e abasteciam cerca de 82% da população. O reservatório do Descoberto é o principal manancial, fornecendo água para mais de 60% da população. Ele foi construído em 1974 pelo represamento do rio Descoberto e afluentes próximos às suas cabeceiras, formando a Bacia hidrográfica do Alto Descoberto. A bacia é formada por sete sub-bacias hidrográficas, abrangendo uma área de drenagem de 445 Km2, da qual 70% encontra-se no DF e os outros 30% no estado vizinho do Goiás. O represamento produziu uma área alagada de 12,5 Km2 e reservatório com capacidade de armazenamento útil de 86 Hm3 (86 bilhões de litros) em sua cota máxima de referência (1.030m). O uso do solo na área de captação hídrica da bacia é caracterizado pela atividade pecuária, pelo principal polo de horticultura do DF, em Brazlândia, além de outros cultivos, núcleos de urbanização e áreas de conservação ambiental. Entre 2016-2018 o DF passou por uma severa crise hídrica, a primeira da sua história. O reservatório Descoberto chegou próximo ao colapso no final de 2017, o qual foi evitado por uma série de medidas de enfrentamento e a volta de chuva regulares em 2018.
- Elaboração do vídeo “Segurança hídrica no DF” (http://INCT-Odisseia.i3gs.org/videos/);
- Construção de um banco de dados com informações climáticas, fluviométricas, de uso e ocupação do solo na área da bacia do Alto Descoberto, assim como indicadores relevantes sobre o sistema de abastecimento hídrico do DF;
- Elaboração do inventário das principais intervenções implementadas pelo governo, CAESB, sociedade civil e população em geral no enfrentamento da crise hídrica do DF.
- Palestras em mesas de debates durante durante o IX Encontro Nacional da Anppas.
A caracterização dos vetores imediatos da crise hídrica foi realizada dentro do arcabouço da vulnerabilidade climática, assim como foram identificados os principais pontos de intervenção adaptativa e elementos da paisagem institucional. Esta etapa precede a análise das informações dentro de um arcabouço vetor-impacto-resposta que permita comunicar de forma palatável ao tomador de decisão um diagnóstico relevante da crise hídrica tendo em vista fortalecer o sistema de governança e resiliência do sistema de abastecimento hídrico do DF frente à mudança climática e a agenda 2030. Também foi desenvolvido um modelo heurístico para simular o balanço hídrico da barragem Descoberto capaz de ser implementado por usuários não-especialistas que tenham acesso aos bancos de dados públicos do INMET e ANA.